terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O fim...


"Trois Gymnopédies - Erik Satie"
   A chuva caia fina sob o asfalto naquela manha. Um vento frio de tristeza vinha enfeitar aquela manhã como jamais deveria. Caira, enfim, a ficha do que estava acontecendo: estava chegando o fim. O fim do começo de uma vida, o fim de 3 anos insubstituéveis, o fim de uma época que jamais deveria terminar. Mas era isso, simplesmente, o fim.
   3 anos de noites impagáveis e conversas divididas com as melhores companhias que se possa imaginar, 3 anos de companheirismo absoluto, invariável e impassivel de qualquer crença ou opnião, respeito mútuo, diversão nos melhores, piores e mais simples momentos; tudo isso resumido em uma única palavra: fim. O fim que sempre traz hesitação, medo, ânsia... sentimentos que, nem sempre, são justificados pelo momento. Mas, dessa vez, o fim veio muito mais cruel e repentino que nunca. Veio como um martelo que, sem piedade, bate num prego inerte, perpendicular a um pedaço duro de madeira de lei: o prego, sem opção, aceita seu destino, consequentemente, aceitando ser esmurrado e prensado contra a madeira tão sólida. E, para ele, aquele final foi tão repentino quanto doloroso.
   Ele que se viu no meio dessa história toda: no meio de amizades eternas, no meio de situações que valem a pena ser lembradas e das que não valem também, no meio de risadas e momentos. Tudo veio à sua mente, mas foi incapaz de derrubar uma lagrima sequer: chorar não era solução, muito menos alívio. Diziam-no que o que estava por vir não seria necessariamente ruim e, no fundo, era o que todos queriam, fugir daquele lugar. Lugar que, apesar de ter dado tantas amizades, foi uma prisão em diversos momentos. Não para ele. Ele não se sentia preso, ele se alegreva em dividir aquele lugar tão familiar com os que estavam a sua volta, de rir com eles naquele lugar, de passar por momentos dificeis com eles naquele lugar e tudo mais. Sair dali significava perder, quese que completamente, certas amizades de fora. Perder bons companheiros que apareceram durante o desenrolar daqueles 3 anos e perder o motivo de ter passado e (continuar passando) certas noites em claro. Ele nao queria perder isso tudo, muito menos aquele motivo; ele não queria se afastar, estava disposto a fazer (quase) tudo a seu alcance pra nao perder!
   Só que o fim vinha se provar um dificil obstaculo: "não perder contato" é um conceito que depende de duas pessoas, as duas tem que estar dispostas a fazer o máximo para continuar a se falar. E ele não tinha certeza se com esses companheiros e com o motivo haveria tal reciprocidade. E isso o inquietava. O que tornava o sofrimento um pouco o maior do que, talvez, fosse.
    Teria sido melhor, então, manter-se afastado? Refugiado em algum canto, excluido, já prevendo que o momento de partir haveria de chegar e que não tento amigos a despedida seria menos dolorosa, mais mecânica? Automação, era tudo que ele precisava agora. Encontrar palavras que à todos fosse agradável, encontrar elogios e eufemismos para saber tratar de uma situação dessas consigo mesmo. Mas diplomacia nunca foi seu talento, especialmente quandos e tratava de convencer-se de que seria melhor ter passado esses anos sem um verdadeiro amigo sequer. Ele não queria mudar, ele queria permanecer como sempre foi, era só isso. Ele queria que a vida tivesse fabricado-o juntamente com um crontrole remoto capaz de parar a vida em momentos agradaveis que jamais deveriam acabar. E esses 3 anos foram, sem duvida, um extenso fragmento de vida que jamais deveria acabar.
   Então, a página tinha que virar, quem merecesse havia de ficar, mais uma vez, a roda tinha que, para alguém, girar. E fora sua vez. Não adiantaria escrever infindáveis páginas num caderno qualquer  relembrando sensações subjetivas. Ele teria que erguer a cabeça e seguir, levando consigo aqueles que demonstrassem a reciprocidade característica dos que permanessem. E os que não demonstrassem tal característica deveriam ficar para tras, não passando de boa lembranças... mas e se seu motivo estivesse incluso nesse grupo dos que ficariam para tras? Ele simplesmente ficaria? Ou faria-o sofrer mais e mais e mais, além do que já sofria àquele tempo? Seu motivo não importava tanto, tendo em vista a (possivel) despedida de seus melhores amigos, mas estes não lhe traziam preocupação, pois estes haviam de ficar, para sempre.

Desejem-me sorte.

"Whatever tomorrow brings I'll be there, with open arms and open eyes."