Respiro fundo mais uma vez e inspiro a vida que busco. Fecho os olhos e vem uma imagem translúcida do que quero de mim - um reflexo. É intrigante a maneira como planejo o futuro terceirizando minha alegria - as vezes intrigante demais.
Mas o futuro parece cada vez mais próximo e as realizações cada vez mais distantes, escorrega por entre meus dedos minha visão: estou cego, estou perdido. Vasto seja o caminho que tenho pela frente, não só pela frente como por todos os lados. Vasta seja a vida que vem, vasta seja a visão que enxerga mais do que (eu) gostaria de ver.
Eis que surge - cai do céu - uma resposta; tão de repente não há mais perguntas. É só um assunto. Talvez recorrente demais, pois com ele converso todos os dias. É só uma experiencia, talvez forte demais, pois experimento todos os dias. E ela sussurra calma no meu ouvido, traz-me vida e dá-me a certeza de que dentre minha perdição há um caminho. E trago aquele caminho, vivo aquele caminho - sou abraçado pelas mesmas asas que de mim se afastam: sou um brinquedo. Um toque macio que seda os sentimentos, tão macio quanto o mais nobre dos tecidos, tão presente quando a mais forte das duvidas.
E as abrem-se as asas, voando para longe:
- Como pôde tanta recorrência ter tão pouca significancia? - pergunto.
- É simples se parar e pensar: há assunto, mas não há vontade. Não saberia explicar nem por toda razão deste mundo.
- Mas como explica-me aquele dia? E aquele outro? E aquela brisa ou aquele olhar? Como se desempenha a mascarar tudo aquilo e sedar-se do que pode vir a sentir por mim? - novamente pergunto.
- Não sei te explicar. Volto sempre a te abraçar, pois te ti não quero distância, quero-te perto - mas talvez não tão perto. É algo em ti - ou algo em mim - que não brilha, não satisfaz. Não se constrói futuro de coisas assim, não se começa algo assim.
Abro um maço, trago um cigarro a minha boca e reflito por um instante. Há alguma beleza na fumaça circulando os seus problemas e amortecendo-os a medida que você cai de um voo alto (ou quando te largam em pleno voo). A queda parece ser mais tranquila. Trago de novo, mas não o cigarro, agora trago aquele momento. E ponho-me novamente à situação:
- Como podes não construir um futuro baseado em coisas assim? São coisas assim que fazem o próprio futuro! Apenas deixe a brisa nos levar para longe, suas asas são suficientes para nós dois, o tempo se encarregará do resto. E como dizes que não há brilho ou faísca? É inegável que há, em dados momentos. Mas apenas precisamos desses momentos.
- Talvez seja assunto demais, eu posso ter o tanto quanto quiser contigo e sempre vou ter mais. Isso nunca tive e não quero deixar de ter, mas o voo... acho que já voei mais alto. Você é denso demais.
- Denso? Culpa minha carga por sua incapacidade?
- É, denso... sabe? Algo que não necessariamente pesado, mas difícil de carregar. É tudo metafórico. Mas pense nisso por um instante: adoro a maneira como fala e tem ideias e é capaz de dissertar sobre diversos assuntos. Admiro sua visão e gostaria de compartilhar dos óculos que usa as vezes. De fato, até considero tua palavra. Mas não fale sobre minha incapacidade. Recordo-me de ter carregado pesos maiores.
- Pois digo que ainda há chance. Não jogue fora, nem todo voo que começa baixo termina baixo.
- Mas nenhum voo que mantem-se baixo é capaz de subir.
- Se for assim, como planadores sobem?
- Não quero saber da física. Desprezo a física e a tua lógica-sentimentalista. Você se baseia demais nela. Não consegue entender o que quero dizer? É um analfabeto funcional, isso que é! Mal consegue ler as entrelinhas. Tudo que disse, disse em teu valor. Veja: se não tivesse dito aquelas coisas, teria vindo à mim?
- Sadismo! Podre!
- Foi necessário.
- Egoísmo! O mundo não gira em torno de seu umbigo!
- Não tenho umbigo. Sou uma parte de ti que não podes tocar, não se esqueça disso. Lembre-se que não tenho sabedoria física ou matemática do que podes tocar. Sou tão instintivo quanto o que sentes: por mais que culpe a lógica do seu raciocínio, não consegue explicar o que sente!
- Não ponha a culpa em minha mente.
- Ponho sim. Na sua mente e nessa sua inacessível irracionalidade. É apenas real o que tocas e a mim não pode encostar um dedo sequer. Sou o que vê, mas não o que tocas. Sou o que sente do que tocas.
Agora faz sentido, pouco sentido, mas se existe algum sentido nessa história, ele começa aqui. Talvez. Costumo dizer que há um limite muito tênue entre a sanidade e a insanidade - cruzei esse limite algumas vezes, fui e voltei. Foi tão fácil ir e tão difícil voltar que me proibi de ir apenas pela dificuldade de voltar, acho que é assim que as coisas funcionam, praticamente... mas não tem tanto a ver com praticidade, talvez mais a ver com o que fui capaz de criar. E então ouço, sem perguntar nada, apenas me é dito:
- Sabe, foi você que criou isso tudo. Esse problema todo, você complicou tudo. Você quis o controle da situação, e você fazia graça dos controladores... francamente. Tantas vezes você questionou o seu erro e cometeu-o dessa vez. Entenda, há um problema um tanto... filosófico aqui. Nem tão físico, mas metafórico, novamente. Você acredita que bons voos começam baixos, mas eu sempre gostei quando saltei alto e mantive-me alta - e acredito no que gosto. Como podemos conviver assim? Seja franco.
- É, talvez não possamos. Começamos uma relação fadada ao fracasso sem nem sabermos. Somos tão parecidos, tanta aparência! E como pôde essa pequena diferença afastar-nos? Tão pequena, imensurável. Minha visão fica turva apenas em pensar que de ti me afastarei e então terei de ver-te em outros caminhos...
- Mas é isso, vá. Adeus. - concluo.
- Nos falamos? Eu não quero distancia.
- Eu quero. O máximo de distancia possível.
- Mais um problema?
- Sim, todos... vou embora. Deixe-me, tenha-me desta forma ou não me tenha de forma alguma. Não posso fugir do clichê.
- Se peco no sadismo, você pecou em ser tão previsível. Despresível.
- Pare de me torurar, vou embora. Adeus. Tenha uma boa vida, viva bem. Siga o caminho que mereces, não se deixa enganar. Não quero saber de você daqui a dez ou vinte anos como uma promessa não cumprida. Adeus.
Acabou.
Assim terminou a conversa. Não há conclusões a serem tiradas, não há nada a ser dito - ou mostrado. O que é para ser lembrado será lembrado, mas serei esquecido. Apenas lembrarei sem ser lembrado. Falo comigo mesmo, pois sou duas pessoas agora: sou quem fala e quem ouve. Sou os dois lados da moeda, entendo ambos. Mas falho em contentar-me em entende-los...
Portanto, ponho-me a livrar-me do veneno que correu em minhas veias: eu mesmo.
Ora, o caminho é vasto de novo. A visão está cansada de novo, o medo volta e a perdição também. E perambulo sozinho, andando livre entre meu lado são e meu lado insano, buscando um porquê, buscando uma data e um local. Sigo, apenas sigo.
Não há nada a dizer, mas há algo que refuto a aceitar. Devo, contudo, acostumar-me a ideia agora, para que um dia possa aceitar - quem sabe? Pois, de tudo dito, nada foi retirado. Essa conversa não significou nada, de novo...
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Frustração
Curiosa a maneira como a decepção ocorre à mente. Pode ser sobre qualquer assunto e conforme a idade - consequentemente - as responsabilidades aumentam; aumentam as fontes de frustração: seu trabalho, seus relacionamentos, suas amizades, você mesmo, sua família, o sistema ecônomico mundial, o "bom dia" que uma pessoa que você não gosta lhe deu, seus planos não terem saído como planejados... um poço fundo e largo onde almas caem constantemente - uma armadilha.
Mas ninguém, absolutamente ninguém, tenta sair uma vez dentro do buraco.
- E eu sou excessão?
Curiosa a maneira como uma mente criativa
pode se transformar numa máquina impotente. Não é incomum encontrar-se em estado letárgico, sedado de si mesmo. Não é comum encontrarmos um argumento instigante em quaisquer caminhos, é difícil tropeçar em algo que valha a pena; não vale a pena. Simplesmente não vale a pena - querer estar vivo, querer poder respirar cada momento, não vale a pena. Não se faz mais arte ou declaração, não faz mais sentido e nem vida, faz-se sequencia e automação: é o que dá futuro, é o que dá carreira - tá em alta no mercado. Talvez seja de agrado geral reclamar e não mudar - ao invés de mudar e não reclamar.
- A alma sofre;
- A vida pulsa;
- A mente se cala.
Curiosa a maneira como evita-se a mudança. É tão fácil transformar-se em alguém que não valhe a pena pelo simples fato de não achar que valhe a pena se transformar. Falha a lógica. Falha o ceticismo. Falham a saturação e o foco. É inerente, digo, é quase uma parte adormecida em cada um de nós o poder de fazer algo que nos faça sentir maior que nós mesmos - mas, então, falta o que? Hobby ou vontade? Livro ou óculos?
- As pessoas viram caricaturas de si mesmas.
Curiosa a maneira como incapacito tudo que me parece ter uma descrição óbvia. Fujo do óbvio e da gíria, não me admiro facilmente - simplesmente não quero ser uma gíria. Mas retorno: quem eu quero ser, ora, se não eu mesmo? Mas quem sou eu mesmo se não, ora, uma cópia próxima ao que admiro e antônima-distante do que detesto? Entra, então, o sentimento de que descobrir-me é inútil, mas inventar-me é cruscial. Vejo apenas o que não quero seguir e sigo apenas o que quero, me faço cada vez mais distante de cada gota venenosa do senso-comum. Quero me afastar da vida pequena que cabe no cotidiano, quero evitar ser uma generalização e também uma reclamação. Entediam-me pessoas que não sabem discernir o que pensam do que foram ensinados, entediam-me facilmente pessoas que não são capazes de desenvolver um pensamento por si mesmas, entedia-me a religião, entedia-me o certo e o errado, entedia-me o que me faz bem e entedia-me o que me faz mal.
Equilibrio: apenas uma corda, uma linha. Desequilibrar-se é virar uma rosa posta em cima de seu túmulo, equibrar-se é não ter sequer uma lápide - não é o esquecimento, mas a vida eterna, o sentimento.
- Engrandecimento.
Curiosa a maneira como me faltam palavras e, em consequencia, coerencia. E então me ascende a frustração e o desespero:
- Faltam-me palavras ou falta-me sentido?
domingo, 29 de abril de 2012
Relógio
(Continuação de Estação de Trem)
Aquele homem era incomum. Trazia consigo uma pressa intrigante, poucos tinham aquela espécie de brilho. O homem olhava incessantemente para o relógio perfeitamente polido: o dourado lhe agradava os olhos. O narcisismo profissional que aquele homem emanava era capaz de incomodar; preocupava-lhe o tempo, não o porquê, mas a matemática: quanto tempo ainda há, quanto tempo já passou? Ajeitava o terno compulsivamente como forma de saciar a inquietude. Aquele homem era o que ele possuía. Ele era o seu relógio, o seu terno risca de giz, sua calça feita sob medida: ele vestia o que ele era.
Porque?
Quem passava ao seu redor olhava curioso enquanto o sol tímido iluminava o pavimento em tom-pastel da estação. Seus sapatos refletiam o mundo de maneira que quem passava ao redor do homem temia chegar perto demais para não sujar. Alguns olhavam com certa admiração o seu Messias contemporâneo atender o celular e cuspir palavras ásperas ao vento. Naquela estação, naquele momento, ele era (para si) um deus. Ele era o exemplo, o objetivo. Era tão admirado que chegava a ser temido.
Respeito. Pelo que? Pelo homem ou pela imagem? Respeito por seu semelhante ou superior?
Quem era ele e porque ele era melhor que eu? Quem disse que ele era? Quem disse? De qualquer forma, quem ao redor estava parecia achar isso.
Convicto de si mesmo o homem era. Tão convicto como jamais vira antes. Ele sabia o que queria, ele sabia quem ele era, ele sabia o que estava fazendo - sem dúvidas. Ele parecia tão seguro de si que ninguém era capaz de abala-lo, por nada nesse mundo, por ninguém nesse mundo.
E quem ele tinha além de si?
O que ele via que não fosse baseado nele mesmo?
Aquele homem era incomum. Trazia consigo uma pressa intrigante, poucos tinham aquela espécie de brilho. O homem olhava incessantemente para o relógio perfeitamente polido: o dourado lhe agradava os olhos. O narcisismo profissional que aquele homem emanava era capaz de incomodar; preocupava-lhe o tempo, não o porquê, mas a matemática: quanto tempo ainda há, quanto tempo já passou? Ajeitava o terno compulsivamente como forma de saciar a inquietude. Aquele homem era o que ele possuía. Ele era o seu relógio, o seu terno risca de giz, sua calça feita sob medida: ele vestia o que ele era.
Porque?
Quem passava ao seu redor olhava curioso enquanto o sol tímido iluminava o pavimento em tom-pastel da estação. Seus sapatos refletiam o mundo de maneira que quem passava ao redor do homem temia chegar perto demais para não sujar. Alguns olhavam com certa admiração o seu Messias contemporâneo atender o celular e cuspir palavras ásperas ao vento. Naquela estação, naquele momento, ele era (para si) um deus. Ele era o exemplo, o objetivo. Era tão admirado que chegava a ser temido.
Respeito. Pelo que? Pelo homem ou pela imagem? Respeito por seu semelhante ou superior?
Quem era ele e porque ele era melhor que eu? Quem disse que ele era? Quem disse? De qualquer forma, quem ao redor estava parecia achar isso.
Convicto de si mesmo o homem era. Tão convicto como jamais vira antes. Ele sabia o que queria, ele sabia quem ele era, ele sabia o que estava fazendo - sem dúvidas. Ele parecia tão seguro de si que ninguém era capaz de abala-lo, por nada nesse mundo, por ninguém nesse mundo.
E quem ele tinha além de si?
O que ele via que não fosse baseado nele mesmo?
sábado, 10 de março de 2012
Estação de trem
(continuação de Clima)
Como um homem que escolhe uma estação de trem - ao acaso - para passar a eternidade: ver pessoas indo e vindo, preocupadas com o que fizeram de suas vidas, preocupadas com as consequências das atitudes que tomam - escravas de si mesmas.
Casais indo e vindo; famílias se reencontrando e se distanciando; amigos brigando e se reconciliando; histórias começando e terminando. A contagiante felicidade anônima: risos contidos e olhares discretos, contadores de histórias e seus protagonistas, beijos, abraços, dores e tristezas. Os extremos da condição humana presenciados todos os dias, por todo infinito. Os trens passam, com mais ou menos vagões, mas o homem está lá, sentado. Imperceptível. Poderia ser percebido - e talvez tenha sido - mas o cotidiano não manda flores a quem as espera, o ordinário é uma fria parede de concreto: a maioria encara, mas foge de seu encontro de tempos em tempos. O homem vê e sente essa parede sufocante todos os dias.
A solidão é o homem e a parede é a vida.
Porque? Porque tão cruel?
Em fuga a vida é uma cantata, uma eterna ode em tom maior. Em elucidação é o triste soneto em escala menor - o teor alcoólico inerente aos pensadores suburbanos, o vício da desgraça, o vício da tristeza.
É ambiência - o ambiente que cerca.
O homem que senta à estação todos os dias sabe da verdade, mas foca-se em si, em esperança de que a verdade mude. O presente, mutável.
Mas eis que o questionador é abruptamente interrompido: um homem de terno, sobretudo, chapéu e um rosto parecido com um limão - como imaginado por René Magritte - olhando a todo instante para seu brilhante relógio.
Preocupado.
Como um homem que escolhe uma estação de trem - ao acaso - para passar a eternidade: ver pessoas indo e vindo, preocupadas com o que fizeram de suas vidas, preocupadas com as consequências das atitudes que tomam - escravas de si mesmas.
Casais indo e vindo; famílias se reencontrando e se distanciando; amigos brigando e se reconciliando; histórias começando e terminando. A contagiante felicidade anônima: risos contidos e olhares discretos, contadores de histórias e seus protagonistas, beijos, abraços, dores e tristezas. Os extremos da condição humana presenciados todos os dias, por todo infinito. Os trens passam, com mais ou menos vagões, mas o homem está lá, sentado. Imperceptível. Poderia ser percebido - e talvez tenha sido - mas o cotidiano não manda flores a quem as espera, o ordinário é uma fria parede de concreto: a maioria encara, mas foge de seu encontro de tempos em tempos. O homem vê e sente essa parede sufocante todos os dias.
A solidão é o homem e a parede é a vida.
Porque? Porque tão cruel?
Em fuga a vida é uma cantata, uma eterna ode em tom maior. Em elucidação é o triste soneto em escala menor - o teor alcoólico inerente aos pensadores suburbanos, o vício da desgraça, o vício da tristeza.
É ambiência - o ambiente que cerca.
O homem que senta à estação todos os dias sabe da verdade, mas foca-se em si, em esperança de que a verdade mude. O presente, mutável.
Mas eis que o questionador é abruptamente interrompido: um homem de terno, sobretudo, chapéu e um rosto parecido com um limão - como imaginado por René Magritte - olhando a todo instante para seu brilhante relógio.
Preocupado.
quinta-feira, 8 de março de 2012
Clima
(continuação de "Solidão")
"Sei lá, acho que é o clima de lá, já foi melhor..."
Sensibilidade. Uma característica inerente a qualquer um, mas especialmente presente em quem busca o isolamento. Contudo, consciente de seus sentimentos, quem o sente realmente o esconde.
Então seria de observar que aquele que mais busca a solidão é consciente de si, mas, ainda sim, incapaz de aceitar-se em serenidade, sempre conflituoso.
Insatisfação? Retoma-se, então, a indagação: ser quem você é ou ser quem você quer ser?
- Quem realmente é?
- Quem não quer ser?
Existe alguém capaz de esquecer-se para poder viver (ou "viver") adequadamente? Alguém realmente é capaz de se possuir? O desejo de viver é maior que o de existir?
- Existir e viver são sinônimos?
"Penso logo existo";
"Penso logo vivo".
Qual a diferença elementar entre essas duas frases que as fazem parecer superficialmente iguais, mas essencialmente diferentes?
- São?
Ou é apenas mais uma intuição de alguém que não sabe organizar sua psiquê?
Talvez.
Enquanto a hora passa impiedosamente a vida fica;
se repete constantemente.
É por isso que a imortalidade carnal é utópica. Se o tempo fosse um homem, imagine o quão amargurado ele seria consigo mesmo: ver todos passarem. Lotes e lotes de gente, como numa estação de trem.
(continuação: Estação de trem)
(continuação de "Solidão")
"Sei lá, acho que é o clima de lá, já foi melhor..."
Sensibilidade. Uma característica inerente a qualquer um, mas especialmente presente em quem busca o isolamento. Contudo, consciente de seus sentimentos, quem o sente realmente o esconde.
Então seria de observar que aquele que mais busca a solidão é consciente de si, mas, ainda sim, incapaz de aceitar-se em serenidade, sempre conflituoso.
Insatisfação? Retoma-se, então, a indagação: ser quem você é ou ser quem você quer ser?
- Quem realmente é?
- Quem não quer ser?
Existe alguém capaz de esquecer-se para poder viver (ou "viver") adequadamente? Alguém realmente é capaz de se possuir? O desejo de viver é maior que o de existir?
- Existir e viver são sinônimos?
"Penso logo existo";
"Penso logo vivo".
Qual a diferença elementar entre essas duas frases que as fazem parecer superficialmente iguais, mas essencialmente diferentes?
- São?
Ou é apenas mais uma intuição de alguém que não sabe organizar sua psiquê?
Talvez.
Enquanto a hora passa impiedosamente a vida fica;
se repete constantemente.
É por isso que a imortalidade carnal é utópica. Se o tempo fosse um homem, imagine o quão amargurado ele seria consigo mesmo: ver todos passarem. Lotes e lotes de gente, como numa estação de trem.
(continuação: Estação de trem)
quarta-feira, 7 de março de 2012
2 anos depois...
Solidão
Não acredito que haja um local ideal à reflexão dentro de um grupo. Estão todos preocupados demais em rir, se divertir, em esquecer a vida por alguns instantes. Acredito que um homem é o que pensa e - para pensar - há de se abster das suas companhias. Vejo no homem que busca a solidão o engrandecimento - talvez ande junto com o desgosto o crescimento pessoal.
O desgosto pelo homem em si: quem sabe não seja esta uma característica subvalorizada pela maioria que aceita o homem como máquina e não como cérebro? Aceita o tempo como inimigo, mas não acolhe sua essência. Talvez seja o mal do homem preocupar-se demais em viver: a vida vivida como tem de ser, a vida gasta, a vida comprada. O estilo, não a arte. O momento, não a eternidade. As atitudes, não os princípios.
Talvez por isso a sociabilidade seja o perigo por trás do riso: um vício. O vício da felicidade tras a morte subjetiva. E, talvez por isso, sejam os mais solitários os mais sábios. Contudo, não há de ser a solidão forçada, mas a abraçada; a solidão que se aprende, a poeira sobre a mesa - abismo social. Talvez seja essa uma característica inerente a tampoucas pessoas, talvez, talvez...
O existencialismo para alguns pode ser deveras conflituoso e, quem sabe um dia, possamos nos aceitar como somos...
- Quando deixarmos de querer ser alguém para ser alguém?
- Quem sou eu além de uma cópia de quem admiro?
Um dia, acredito, a maioria das pessoas aprenda a abster-se de seu existencialismo para aceitar que, de fato, existe - e não há nada a ser feito sobre isso, ou refletido. Aceitar-se é o caminho mais curto para a sobriedade, a convicção em si.
Mas ser convicto de seus princípios é, necessariamente, ser convicto em si?
(Continuação: "Clima")
Não acredito que haja um local ideal à reflexão dentro de um grupo. Estão todos preocupados demais em rir, se divertir, em esquecer a vida por alguns instantes. Acredito que um homem é o que pensa e - para pensar - há de se abster das suas companhias. Vejo no homem que busca a solidão o engrandecimento - talvez ande junto com o desgosto o crescimento pessoal.
O desgosto pelo homem em si: quem sabe não seja esta uma característica subvalorizada pela maioria que aceita o homem como máquina e não como cérebro? Aceita o tempo como inimigo, mas não acolhe sua essência. Talvez seja o mal do homem preocupar-se demais em viver: a vida vivida como tem de ser, a vida gasta, a vida comprada. O estilo, não a arte. O momento, não a eternidade. As atitudes, não os princípios.
Talvez por isso a sociabilidade seja o perigo por trás do riso: um vício. O vício da felicidade tras a morte subjetiva. E, talvez por isso, sejam os mais solitários os mais sábios. Contudo, não há de ser a solidão forçada, mas a abraçada; a solidão que se aprende, a poeira sobre a mesa - abismo social. Talvez seja essa uma característica inerente a tampoucas pessoas, talvez, talvez...
O existencialismo para alguns pode ser deveras conflituoso e, quem sabe um dia, possamos nos aceitar como somos...
- Quando deixarmos de querer ser alguém para ser alguém?
- Quem sou eu além de uma cópia de quem admiro?
Um dia, acredito, a maioria das pessoas aprenda a abster-se de seu existencialismo para aceitar que, de fato, existe - e não há nada a ser feito sobre isso, ou refletido. Aceitar-se é o caminho mais curto para a sobriedade, a convicção em si.
Mas ser convicto de seus princípios é, necessariamente, ser convicto em si?
(Continuação: "Clima")
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